quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

"Princesa" de Flavio Venturini na voz da baiana Simone... um apelo de amor!







Uma grande canção de amor, "Princesa", composição de Flavio Venturini e Ronaldo Bastos, mas que na voz de seu criador, o próprio Flávio, não faria sucesso de imediato, em 1982, quando foi gravada por ele, só ficou nacionalmente conhecida alguns anos depois, na voz da baiana Simone, a cigarra da MPB.


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O LP de Simone, Cristal, lançado em 1985


Foi em 1985, na gravação do seu 12º LP, Cristal, pela gravadora Sony Music, que Simone resolveu incluir na lista das 10 faixas deste disco, a canção "Princesa",  a qual viria ainda com a participação do grupo Roupa Nova

"Princesa", junto com a canção "Água na boca" de Tunai e Abel Silva, foi o carro chefe do disco, e sucesso em todo o Brasil, ganhando inclusive espaço no clipe especial do Fantástico e várias apresentações no programa Globo de Ouro daquele ano. O próprio Roupa Nova incluiria a canção no seu LP do ano seguinte. 

Flavio Venturini chegou a gravar a sua canção "Princesa" em seu primeiro disco solo, o LP Nascente, de 1982, lançado pela gravadora EMI/Odeon, mas neste trabalho as canções que emplacaram foram a própria canção que dá nome ao disco, "Nascente", composição de Flavio Venturini e Murilo Antunes, e a conhecida "Espanhola", composição de Flavio Venturini e Guarabyra

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Capa do LP Nascente, de Flavio Venturini, lançado em 1982

O próprio Flávio Venturini declarou em entrevista recente, que "Princesa" é uma das suas mais belas canções, e que está entre as que ele mais gosta, por sua harmonia musical, e ainda revela que a canção, apesar da letra ser de Ronaldo Bastosa música foi composta depois de uma separação amorosa que ele(o Flávio) viveu, e que ela teria sido concebida como um apelo de amor.

A Letra
"Princesa" - Flavio Venturini e Ronaldo Bastos
Vale tentar viver tudo de mais
Você me faz descobrir
O dom de iluminar
Tudo o que for sentir deve durar
De tanto a luz, explodir
Aprender, conhecer, revelar
Sim, princesa
Sou quem vai chegar
Na chuva da montanha
Vem se molhar
Sempre, pra sempre
Sou do seu querer
Estrela cintilante
Vem me valer
Vale dizer que sim vale chorar
De tanto o som, expandir
Descobrir, conhecer, revelar
Sim, princesa
Sou quem vem pedir
Me faz arder em brasa
Vem e me ascende
Chama, me chama
Sou o seu querer
Estrela cintilante
Vem me valer

Sensível demais...


Quando uma canção é sensível demais, 
reunindo melodia e letra em um resultado espetacular,
 digo que pode ser interpretada em qualquer estilo 
e o resultado será sempre bom!!!


"Sensível demais"
canção composta pelo cantor e compositor carioca Jorge Vercillo é uma destas obras primas que na voz de quem quiser re-gravá-la, será sucesso, 
pois que o conjunto entre melodia e letra é genial.


Capa do CD Acústico de Chrystian e Ralf, gravado em 1998


O mais interessante no caso desta canção é que Jorge Vecillo a compôs e não a gravou logo de imediato... a primeira gravação de "Sensível demais" que se conhece vem na interpretação da "dupla mais afinada do Brasil", os irmãos Chrystian e Ralf, que a interpretaram em seu CD e DVD Acústico, de 1998, lançado pela Warner-Continental. Foi sucesso imediato, e muitos estranharam o fato de um compositor e cantor de MPB ceder uma canção sua para uma dupla sertaneja, mas enfim, o resultado foi espetacular.






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Blog de moscanasopa : Mosca na sopa, Uma linda canção, para duas grandes amigas, Cintia e Ediene... sensível demais!!!
A cantora Nalanda, remanescente do programa Fama, 
grava "Sensivel demais" pela Som Livre, para a trilha da novela Chocolate com pimenta


Anos mais tarde, em 2003, a cantora Nalanda, uma das remanescentes do programa Fama, da TV Globo, grava "Sensível demais" que é incluída na trilha sonora nacional da novela Chocolate com pimenta, da mesma emissora... a interpretação de Nalanda também não fica atrás da de Chrystian e Ralf.

O DVD de Maria Bethânia, Música é perfume, de 2005


Em 2005 foi a vez da baiana Maria Bethânia gravar em seu DVD Música é perfume, a canção "Sensível demais"... e aí vemos que depois de uma passagem pelo sertanejo, pelo pop, agora a melodia recebe um arranjo mais voltado para a MPB e magistralmente, a voz de Bethânia dá um toque mais que romântico a esta maravilha.




Faixa bônus do DVD Música é perfume, de 2005, onde Maria Bethânia ensaia a gravação de "Sensível demais"






Em 2011, enfim, é a vez do criador celebrar sua criatura... Jorge Vercillo lança o CD Como diria Blavatsky, seu nono disco, pelo seu próprio selo "Leve", e uma homenagem à escritora russa do século XIX Helena Blavatsky, com 12 canções, todas autorais, e agora como canção principal do disco, "Sensível demais".



Enfim, o CD de Jorge Vercillo, Como diria Blavatsky, lançado em 2011, 
onde o cantor e compositor finalmente grava sua canção "Sensível demais"

Exatamente 13 anos após a primeira gravação de "Sensível demais", Jorge Vercillo resolve então dar a sua voz e seu arranjo à sua própria obra, e é neste momento que podemos ouvi-la talvez, como tenha sido concebida, mas não menos bela como nas vozes de Chrystian & Ralf, Nalanda e Bethânia... o próprio Jorge conta que na campanha de divulgação do seu disco anterior, de 2010, DNA, em visita pelas rádios FM do interior do estado de São Paulo, os locutores sempre tocavam seus sucessos, mas ao fundo sempre ouvia uma canção sertaneja, até que um destes radialistas pergunta a ele "porque você não regrava, não recorre a si mesmo, porque esta música aqui é sua", referindo-se a "Sensível demais" na voz de Chrystian e Ralf, e isso chama a atenção compositor pois que havia se esquecido da música e então resolve gravá-la.



Seu arranjo ficou espetacular, deixando em destaque o violão de aço e a percussão, onde a canção se apresenta em ritmo de "música de acampamento" como o próprio Jorge Vercillo define.



Vídeo dos bastidores da gravação do CD Como diria Blavatsky, onde o próprio Jorge conta como resolver gravar "Sensível demais"




A Letra

"Sensível demais" - Jorge Vercillo
Hoje eu tive medo
De acordar de um sonho lindo
Garantir reter guardar essa esperança
Ando em paraísos descaminhos precipícios
Ao seu lado eu vejo que ainda sou uma criança

Sensível demais eu sou um alguém que chora
Por qualquer lembrança de nós dois
Sensível demais você me deixou e agora
Como dominar as emoções

Quando vem à tona todo amor que está por dentro
Chamo por teu nome em transmissão de pensamento
Longe a sua casa vejo a luz do quarto acesa
Não tem nada quando vaza que segure essa represa

Sensível demais eu sou um alguém que chora
Por qualquer lembrança de nós dois
Sensível demais você me deixou e agora
Como dominar as emoções

Sensível demais eu sou um alguém que chora
Por qualquer lembrança de nós dois
Sensível demais você me deixou e agora
Como dominar as emoções

Eu sou um alguém que chora
Por qualquer lembranças de nós dois
Sensível demais você me deixou e agora
Como dominar as emoções

... é muito bom saber que eu tenho um grande amigo!






Um dos momentos mais emocionantes do show comemorativo de 50 anos da carreira de Roberto Carlos, gravado ao vivo em 2009, foi a participação especial de Erasmo Carlos, seu fiel companheiro desde 1958, com quem canta a canção "Amigo". O espetáculo, que contou ainda com a participação da cantora Wanderléa, a musa da Jovem Guarda, reuniu 68 mil pessoas no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.




A amizade entre Roberto e Erasmo é uma das mais sólidas da história da Música Brasileira... além da parceria na composição de centenas de canções, muitas gravações e shows juntos, o Rei e o Rockeiro são protagonistas de um dos mais belos e duradouros exemplos de amizade do cenário musical nacional... parceiros desde o final dos anos de 1950, esta amizade sempre foi intensa entre os dois, já brigaram, já romperam a parceria musical por um curto período, retomaram a parceria mais fiéis ainda, já foram o maior apoio um do outro em momentos difíceis da vida de ambos, e permanecem até hoje, compondo juntos, cantando e sendo amigos, simplesmente amigos!!!

Blog de moscanasopa : Mosca na sopa, Em certos momentos difíceis, sua palavra de fé e carinho tenho, a certeza que não estou sozinho...
O LP Amigo, lançado em 1977 pela CBS

A canção "Amigo", foi composta por Roberto e Erasmo Carlos para fazer parte do disco de mesmo nome, Amigo, gravado e lançado pelo Rei em 1977 pela gravadora CBS... este LP ainda incluía os sucessos "Cavalgada""Pra ser só minha mulher""Falando sério" e "Jovens tardes de domingo". O disco ainda foi lançado no México no mesmo ano, com Roberto cantando várias canções em espanhol, inclusive "Amigo".






Versão em espanhol do LP Amigo, lançada no México em 1977



A canção "Amigo" estourou nas paradas musicais nacionais após a exibição do especial  de fim de ano para a TV, de Roberto Carlos, onde o cantor, após um depoimento muito emocionante, convida Erasmo para cantar com ele esta parceria. A partir daí, foram várias as apresentações destes dois amigos, interpretando "Amigo"... esta canção teve um outro momento marcante desde a sua composição, no México, em 1979, quando de sua visita ao país, o Papa João Paulo II foi saudado por um coro de crianças que cantava "Amigo...", este momento foi transmitido para a TV, ao vivo,  para bilhões de pessoas em vários países tanto nos continentes americanos, como no europeu.


A letra
"Amigo" - Roberto Carlos e Erasmo Carlos
Você meu amigo de fé meu irmão camarada, amigo de tantos caminhos
de tantas jornadas
Cabeça de homem mas o coração de menino, aquele que está do meu lado
em qualquer caminhada
Me lembro de todas as lutas meu bom companheiro, você tantas vezes provou
que é um grande guerreiro
O seu coração é uma casa de portas abertas, amigo você é o
mais certo das horas incertas
As vezes em certos momentos difíceis da vida, em que precisamos
de alguém para ajudar na saída
A sua palavra de força de fé e de carinho, me dá a certeza de que eu nunca
estive sozinho
Você meu amigo de fé meu irmão camarada, sorriso e abraço festivo da minha chegada
Você que me diz as verdades com frases abertas, amigo você é omais
certo das horas incertas
Não preciso nem dizer, tudo isso que eu lhe digo, mas é muito bom saber,
que você é meu amigo
Não preciso nem dizer, tudo isso que eu lhe digo, mas é muito bom saber
que eu tenho um grande amigo!

Joana Francesa, Angela Ro Ro e Alcione... a canção do Trovador por duas grandes vozes!!!






Duas grandes vozes da Música Brasileira, a sambista Alcione e a versátil Angela Ro Ro, juntas? Quem imaginaria isso? Mas enfim, aconteceu este encontro... e para nosso deleite, o dueto de vozes perfeitas e únicas destas grandes mulheres, consagrou  uma das mais belas canções do Trovador da MPB, Chico Buarque de Hollanda.... interpretaram magistralmente "Joana Francesa", uma canção que mistura o português e o francês numa forma poética de nos fazer ouvir, e ouvir, e ouvir, e ouvir...

Alcione e Angela Ro Ro, dueto de grandes vozes


O encontro ocorreu na gravação do CD e DVD Angela Ro Ro ao vivo, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, em 2006... Angela que já era fã declarada da Marrom, convidou-a e esta topou de cara, e o dueto ficou perfeito.

A atriz Jeanne Moreau, como Joana Francesa, no filme de Cacá Diegues


"Joana Francesa" foi composta por Chico Buarque para integrar a trilha sonora do filme de Cacá Diegues, de mesmo nome, "Joana Francesa", lançado em 1973, uma co-produção Brasil/França, com elenco composto por Jeanne Moreau, Eliezer Gomes, Carlos Kroeber, Ney Santanna, Antonio Pitanga e Fernanda Montenegro, interpretando a voz de Joana.


Jeanne(Joana), dona de prostíbulo em São Paulo, na década de 30, vai para Alagoas ao conhecer um cliente que se apaixona por ela. Ao se estabelecer com ele em sua fazenda de cana-de-açúcar, entra em contato com um mundo desconhecido e agreste.


O filme foi premiado pelo Troféu APCA(Associação Paulista dos Críticos de Arte), em1974, com os troféus de Melhor Música, "Joana Francesa" e Melhor Roteiro Original, de Cacá Diegues.


O compacto de "Joana Francesa" lançado em 1974



Chico Buarque só gravou a canção "Joana Francesa" num compacto para o lançamento do filme em 1973, e depois, a mesma gravação se reuniu a outras canções do compositor, para o cinema, no disco Chico no Cinema de 2005

E noutra ocasião, ainda nos anos de 1970 grava ao vivo, "Joana Francesa" em dueto com Caetano Veloso

Nara Leão também gravou "Joana Francesa".



A letra
"Joana Francesa" - Chico Buarque
Tu ris, tu mens trop
Tu pleures, tu meurs trop
Tu as le tropique
Dans le sang et sur la peau
Geme de loucura e de torpor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda
Mata-me de rir
Fala-me de amor
Songes et mensonges
Sei de longe e sei de cor
Geme de prazer e de pavor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda
Vem molhar meu colo
Vou te consolar
Vem, mulato mole
Dançar dans mes bras
Vem, moleque me dizer
Onde é que está
Ton soleil, ta braise
Quem me enfeitiçou
O mar, marée, bateau
Tu as le parfum
De la cachaça e de suor
Geme de preguiça e de calor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda

Chico Buarque interpretando "Joana Francesa"

"Estava atoa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar... cantando coisas de amor."






Chico Buarque e Nara Leão interpretando "A Banda" ao final do II Festival da Música Popular Brasileira, no Teatro Record, em São Paulo, em 1966 


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"A Banda"

"A Banda" é uma canção composta e interpretada por Chico Buarque e que foi lançada no primeiro disco do cantor, o LP Chico Buarque de Hollanda, gravado em 1966 pela RGE. O disco ainda revela outros sucessos de Chico, entre eles "A Rita", "Tem mais Samba", "Pedro pedreiro", "Olê, Olá" e "Meu refrão".

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O primeiro disco de  Chico Buarque, lançado em 1966 pela RGE, que incluia "A Banda"


A canção "A Banda" ganhou o II Festival de Música Popular Brasileira no mesmo ano de seu lançamento, que aconteceu nos meses de setembro e outubro no Teatro Record em São Paulo"A Banda" foi interpretada no festival por Chico Buarque e Nara Leão, dividindo o troféu Viola de Ouro de 1º lugar com a canção "Disparada", composição de Geraldo Vandré e Théo de Barros, e interpretrada por Jair Rodrigues, Trio Mariá e Trio Novo. O 2º lugar ficaria para a canção "De amor ou paz", composição de Luiz Carlos Paraná e Adauto Santos, e interpretação de Elza Soares.


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Jair Rodrigues, Nara Leão e Chico Buarque, dividindo o troféu Viola de Ouro em 1966

Este empate não ficou bem esclarecido à época, causando protesto entre a platéia do festival que torcia por "Disparada", e além do trófeu, ambas dividiram um prêmio em dinheiro de mais de 12 mil dólares.

"A Banda" narra um episódio de uma banda musical que desperta a alegria da "gente sofrida" de uma cidade de interior descrita por Chico ao longo da canção. Logo após a sua vitória no festival, a música atingiu grande sucesso, vendendo 55 mil cópias em apenas quatro dias. Nara Leão também gravou "A Banda" em seu disco Nara, em 1967 pela gravadora Philips.



O LP de Nara Leão, de 1967, com a canção "A Banda"

A letra
"A Banda" - Chico Buarque de Hollanda
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

"...Não esqueça, amigo eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará, quando volta já é outro!"




A cantora Maria Rita, interpreta em seu show gravado ao vivo no Rio em 2012, do seu DVD Redescobrir,  a canção "Morro Velho"... um importante chamado às diferenças sociais e raciais ainda existentes no Brasil... composição de Milton Nascimento, e um dos primeiros sucessos do cantor mineiro, em 1967, e também, alguns anos depois, de sua mãe, Elis Regina.


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"Morro Velho"
Foi em outubro de 1967 que um rapaz tímido e simples, mas com um talento explêndido, surge a brilhar nos palcos do Maracanãzinho, na 2ª edição do Festival Internacional da Canção, promovido pela então novata TV Globo... este rapaz era Milton Nascimento, que contra sua própria vontade, teve três de suas canções inscritas para o festival por seu amigo, o cantor e compositor paulista Agostinho dos Santos.

Milton Nascimento no II FIC, no Maracanãzinho em 1967

O próprio Agostinho contaria esta história à revista Veja anos mais tarde, explicando que Milton estava decepcionado com o péssimo resultado de sua participação no festival Berimbau de Ouro, no ano anterior, e que havia decidido não mais participar de outro em sua vida... e foi então como explica Agostinho, que ele pediu a Milton que lhe desse 3 canções de sua composição para que ele(o próprio Agostinho) interpretasse no II FIC... mas qual não foi a surpresa do compositor mineiro quando descobriu que seu amigo paulista houvera inscrito o seu próprio nome como interprete das canções... e diante da classificação das 3 canções para o festival, Milton muda de idéia e resolve participar,  sendo ao final do festival classificado em 2ª lugar com sua canção "Travessia", composição sua em parceria com Fernando Brant. O Mosca na Sopa já contou esta história em outro artigo, destacando inclusive o início da trajetória de sucesso da carreira do compositor mineiro a partir daí.


LP Travessia, de Milton Nascimento, lançado em 1967 pela Codil



"Morro Velho", composição do próprio Milton Nascimento, além de ter se destacado como uma das classificadas para as semi-finais do II FIC, integrou o repertório do primeiro disco do cantor e compositor, o LP Travessia, gravado no mesmo ano do festival, em1967 pela gravadora Codil, e também uma versão deste mesmo disco, em inglês, gravada nos EUA em 1968, com o título Courage, pela gravadora norte americana A&M/CTI
A cantora Elis Regina também viria a gravar anos mais tarde "Morro Velho", com um arranjo espetacular.


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Milton Nascimento e Elis Regina juntos em 1968


"Morro Velho" é uma destas canções que ao se ouvir e prestar muita atenção na letra, sente-se uma simpatia muito grande pela sua mensagem, além de permitir uma reflexão muito profunda da vida atual.

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O complexo de extração de ouro Morro Velho, na cidade de Nova Lima-MG



Nesta canção que tem como título o nome de um dos complexos de extração de ouro mais antigos do Brasil, ainda em exploração desde os anos de 1835, localizado na cidade de Nova Lima, no estado de Minas GeraisMilton Nascimento aborda a questão da exploração do trabalhador rural pelos grandes fazendeiros... na letra Milton fala da amizade entre dois garotos "que correm na estrada atras de passarinho", um branco, outro negro.... o primeiro, filho do dono da fazenda, o segundo, filho do lavrador e empregado... o tempo passa, o primeiro vai embora estudar na cidade grande, o segundo, fica para aprender as tarefas da fazenda... tempos depois, o primeiro retorna, homem formado, agora já é doutor, e vem com sua sinhá-moça, linda, pele branca, alva... o segundo, agora ignorado pelo primeiro que será o seu patrão, é apenas mais um lavrador no lugar de seu pai!


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Triste dizer, mas a realidade liricamente contada na canção de Milton ainda é atual, visto que as diferenças sociais no Brasil de hoje ainda são gritantes, e muitas vezes a cor da pele ainda determina os destinos de um cidadão neste país!


A letra
"Morro Velho" - Milton Nascimento
No sertão da minha terra, fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força, parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada
Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver
Orgulhoso camarada, conta histórias prá moçada
Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante
Não esqueça, amigo, eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará
Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar
Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.