quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

"...Não esqueça, amigo eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará, quando volta já é outro!"




A cantora Maria Rita, interpreta em seu show gravado ao vivo no Rio em 2012, do seu DVD Redescobrir,  a canção "Morro Velho"... um importante chamado às diferenças sociais e raciais ainda existentes no Brasil... composição de Milton Nascimento, e um dos primeiros sucessos do cantor mineiro, em 1967, e também, alguns anos depois, de sua mãe, Elis Regina.


=====


"Morro Velho"
Foi em outubro de 1967 que um rapaz tímido e simples, mas com um talento explêndido, surge a brilhar nos palcos do Maracanãzinho, na 2ª edição do Festival Internacional da Canção, promovido pela então novata TV Globo... este rapaz era Milton Nascimento, que contra sua própria vontade, teve três de suas canções inscritas para o festival por seu amigo, o cantor e compositor paulista Agostinho dos Santos.

Milton Nascimento no II FIC, no Maracanãzinho em 1967

O próprio Agostinho contaria esta história à revista Veja anos mais tarde, explicando que Milton estava decepcionado com o péssimo resultado de sua participação no festival Berimbau de Ouro, no ano anterior, e que havia decidido não mais participar de outro em sua vida... e foi então como explica Agostinho, que ele pediu a Milton que lhe desse 3 canções de sua composição para que ele(o próprio Agostinho) interpretasse no II FIC... mas qual não foi a surpresa do compositor mineiro quando descobriu que seu amigo paulista houvera inscrito o seu próprio nome como interprete das canções... e diante da classificação das 3 canções para o festival, Milton muda de idéia e resolve participar,  sendo ao final do festival classificado em 2ª lugar com sua canção "Travessia", composição sua em parceria com Fernando Brant. O Mosca na Sopa já contou esta história em outro artigo, destacando inclusive o início da trajetória de sucesso da carreira do compositor mineiro a partir daí.


LP Travessia, de Milton Nascimento, lançado em 1967 pela Codil



"Morro Velho", composição do próprio Milton Nascimento, além de ter se destacado como uma das classificadas para as semi-finais do II FIC, integrou o repertório do primeiro disco do cantor e compositor, o LP Travessia, gravado no mesmo ano do festival, em1967 pela gravadora Codil, e também uma versão deste mesmo disco, em inglês, gravada nos EUA em 1968, com o título Courage, pela gravadora norte americana A&M/CTI
A cantora Elis Regina também viria a gravar anos mais tarde "Morro Velho", com um arranjo espetacular.


Blog de moscanasopa : Mosca na sopa, "...Não esqueça, amigo eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará, quando volta já é outro!"
Milton Nascimento e Elis Regina juntos em 1968


"Morro Velho" é uma destas canções que ao se ouvir e prestar muita atenção na letra, sente-se uma simpatia muito grande pela sua mensagem, além de permitir uma reflexão muito profunda da vida atual.

Blog de moscanasopa : Mosca na sopa, "...Não esqueça, amigo eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará, quando volta já é outro!"
O complexo de extração de ouro Morro Velho, na cidade de Nova Lima-MG



Nesta canção que tem como título o nome de um dos complexos de extração de ouro mais antigos do Brasil, ainda em exploração desde os anos de 1835, localizado na cidade de Nova Lima, no estado de Minas GeraisMilton Nascimento aborda a questão da exploração do trabalhador rural pelos grandes fazendeiros... na letra Milton fala da amizade entre dois garotos "que correm na estrada atras de passarinho", um branco, outro negro.... o primeiro, filho do dono da fazenda, o segundo, filho do lavrador e empregado... o tempo passa, o primeiro vai embora estudar na cidade grande, o segundo, fica para aprender as tarefas da fazenda... tempos depois, o primeiro retorna, homem formado, agora já é doutor, e vem com sua sinhá-moça, linda, pele branca, alva... o segundo, agora ignorado pelo primeiro que será o seu patrão, é apenas mais um lavrador no lugar de seu pai!


Blog de moscanasopa : Mosca na sopa, "...Não esqueça, amigo eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará, quando volta já é outro!"


Triste dizer, mas a realidade liricamente contada na canção de Milton ainda é atual, visto que as diferenças sociais no Brasil de hoje ainda são gritantes, e muitas vezes a cor da pele ainda determina os destinos de um cidadão neste país!


A letra
"Morro Velho" - Milton Nascimento
No sertão da minha terra, fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força, parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada
Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver
Orgulhoso camarada, conta histórias prá moçada
Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante
Não esqueça, amigo, eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará
Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar
Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.

Um comentário:

  1. mosca ,ta tudo lindo demaisssssssssssss, olha amei, tudo de bom mesmo, que seja linda a sua estadia aqui, beijocas suely

    ResponderExcluir

"Quem não pode atacar o argumento, ataca o argumentador." Paul Valéry